CONTEXTO HISTÓRICO

CONTEXTO HISTÓRICO

 

Em Portugal, o Barroco ou Seiscentismo tem seu início em 1580 com a unificação da Península Ibérica, o que acarretará um forte domínio espanhol em todas as atividades, daí o nome Escola Espanhola, também dado ao Barroco lusitano. O Seiscentismo se estenderá até 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana.

Em Portugal, tínhamos o seguinte quadro: Lisboa era considerada a capital mundial da pimenta, a agricultura estava abandonada. Com a decadência do comércio das especiarias orientais observa-se o declínio da economia portuguesa. Paralelamente, Portugal vive uma crise dinástica: em 1578 D. Sebastião desaparece em Alcácer-Quibir, na África; dois anos depois, Felipe II da Espanha consolida a unificação da Península Ibérica.

A perda da autonomia e o desaparecimento de D. Sebastião originam em Portugal o mito de Sebastianismo (crença segundo qual D. Sebastião voltaria e transformaria Portugal no Quinto Império). O mais ilustre sebastianista foi sem dúvida o Pe. Antônio Vieira, que aproveitou a crença surgida nas "trovas" de um sapateiro chamado Gonçalo Anes Bandarra.

A unificação da Península veio favorecer a luta conduzida pela Companhia de Jesus em nome da Contrarreforma: o ensino passa a ser quase um monopólio no campo científico-cultural. Enquanto a Europa conhecia um período de efervescência no campo científico, com as pesquisas e descobertas de Francis Bacon, Galileu, Kepler e Newton.

Com o Concílio de Trento (1545-1563), o Cristianismo se divide. De um lado os estados protestantes (seguidores de Lutero – introdutor da Reforma) que propagavam o "espírito científico", o racionalismo clássico, a liberdade de expressão e pensamento. De outro, os redutos católicos (a Contra-Reforma) que seguiam uma mentalidade mais estreita, marcada pela Inquisição (na verdade uma espécie de censura) e pelo teocentrismo medieval. Houve um grande crescimento da Companhia de Jesus, assim o ensino em Portugal e no Brasil era profundamente verbal e religioso, voltado para os dogmas da Igreja Católica.

No Brasil, o Barroco tem seu marco inicial em 1601 com a publicação do poema épico Prosopopeia, a primeira obra, propriamente literária, escrita entre nós, de autoria do português, radicado no Brasil, Bento Teixeira. O quadro brasileiro se completa, no século XVII, com a presença cada vez mais forte dos comerciantes, com as transformações ocorridas no Nordeste em conseqüência das invasões holandesas e, finalmente, com o apogeu e a decadência da cana-de-açúcar.

Na sociedade brasileira dos séculos XVII e XVIII, ainda não havia um público leitor para consumir obras literárias. O movimento barroco não pôde, pois, espalhar-se pelo Brasil inteiro, de norte a sul. Ficou restrito a dois núcleos culturais da época: Pernambuco (onde nasceu, com Prosopopeia, de Bento Teixeira) e Salvador, capital brasileira na época (onde viveu Gregório de Matos e onde viviam a elite intelectual e política brasileira). Os padres foram os primeiros educadores que tivemos e trouxeram para o Brasil a formação ibérico-jesuítica e o gosto pelas artes que vieram da Europa.  Todos os ensinamentos de Portugal eram nos colégios jesuíticos e totalmente verbais.

O final do Barroco brasileiro só concretizou em 1768, com a publicação das Obras poéticas de Cláudio Manuel da Costa . No entanto, como o Barroco no Brasil só foi mesmo reconhecido e praticado em seu final (entre 1720 e 1750), quando foram fundadas várias academias literárias, desenvolveu-se uma espécie de Barroco tardio nas artes plásticas, o que resultou na construção de igrejas de estilo barroco durante o século XVIII.

 

CARACTERÍSTICAS DO BARROCO

  • Dualismo: O Barroco é a arte do conflito, do contraste. Reflete a intensificação do bifrontismo (o homem dividido entre a herança religiosa e mística medieval e o espírito humanista, racionalista do Renascimento). É a expressão do contraste entre as grandes forças reguladoras da existência humana: fé x razão; corpo x alma; Deus x Diabo; vida x morte, etc. Esse contraste será visível em toda a produção barroca, é frequente o jogo, o contraste de imagens, de palavras e de conceitos. Mas o artista barroco não deseja apenas expor os contrários, ele quer conciliá-los, integrá-los. Daí ser frequente o uso de figuras de linguagem que buscam essa unidade, essa fusão.
  • Fugacidade: De acordo com a concepção barroca, no mundo tudo é passageiro e instável, as pessoas, as coisas mudam, o mundo muda. O autor barroco tem a consciência do caráter efêmero da existência.
  • Pessimismo: Essa consciência da transitoriedade da vida conduz frequentemente à idéia de morte, tida como a expressão máxima da fugacidade da vida. A incerteza da vida e o medo da morte fazem da arte barroca uma arte pessimista, marcada por um desencantamento com o próprio homem e com o mundo.
  • Feísmo: No Barroco encontramos uma atração por cenas trágicas, por aspectos cruéis, dolorosos e grotescos. As imagens frequentemente são deformadas pelo exagero de detalhes. Há nesse momento uma ruptura com a harmonia, com o equilíbrio e a sobriedade clássica.
  • Cultismo: jogo de palavras, o uso culto da língua, predominando inversões sintáticas.
  • Conceptismo: jogo de raciocínio e de retórica que visa melhor explicar o conflito dos opostos.
  • Linguagem rebuscada e trabalhada ao extremo, usando muitos recursos estilísticos, figuras de linguagem e sintaxe, hipérboles, metáforas, antíteses e paradoxos.
  • Literatura moralista, já que era usada pelos padres jesuítas para pregar a fé e a religião.
  • Antropocentrismo x Teocentrismo (homem X Deus, carne X espírito).
  • Conflito existencial gerado pelo dilema do homem dividido entre o prazer pagão e a fé religiosa.

AUTORES DO BARROCO BRASILEIRO


1. BENTO TEIXEIRA  - Iniciador do Barroco no Brasil, autor de Prosopopeia.

2. GREGÓRIO DE MATOS  -. Escreveu poemas líricos (em que predominou o Cultismo), satíricos e religiosos.

Conhecido como “O Boca do Inferno”, foi o poeta maior do Barroco brasileiro.

3. PADRE ANTÔNIO VIEIRA - Maior orador sacro de nossa literatura. Importantíssimo representante do Conceptismo.
4. MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA - Autor de Música do Parnaso (1705), primeira obra publicada por um autor brasileiro.